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sábado, 17 de janeiro de 2009

Sobre Carnavalha (Marco Aqueiva)



Salue, caríssimo Nilto:

Temo enviar uma msg hiperbólica; mas se o faço, é porque fiquei literalmente possuído carnalmamente. Dei-me ao prazer de Carnavalha por duas semanas. Pena que não deu para protelar mais a leitura. Protelar só pelo Prazer, para não perdê-lo. Um amigo costuma dizer-me que, quando me apaixono por uma obra, leio como se fosse poesia. Carnavalha tomou-me na perspectiva ficcional e fez-me tremer amiúde como quando caio no terreno da Poesia. Li como poesia sim!
Sob pena de cair em esquematismos fáceis, permito-me dizer da poesia que se traça enquanto busca e revelação quando os habitantes de Palma, cada um deles em suas obsessões e volúpia inconfessável, adormecem e então entra a estrige, ave consagrada ao espírito de Hermes e seus mistérios, vindo libertar das personagens seus desejos inconfessáveis antropomorfizados e perseguidos porque só podem mesmo ser negados.
Carnavalha é, portanto, mistério que não se deve reduzir a esquematismo. Mas permita-me dizer um pouco mais. Carnavalha é rigorosamente a percepção de Zuza da canalha, carnalha, canaval, canavalha, carnavalha, carnavalma... carnavalização.
Carnavalha vale, ao que parece, como percepção carnavalesca numa perspectiva psicanalítica revelando o desencontro das personagens palmenses consigo mesmos (como dissemos), como o é também numa perspectiva sociológica revelando o desencontro de Brasil e Brasil. Brasília chega a Palma. A ordem inquieta-se com a desordem. Os belos jovens brasilienses desencontram-se dos feios velhos palmenses. Nessa perspectiva carnavalesca conjumina-se a grandeza/riqueza espiritual de Zuza posto à roda do sacrifício.
Tanto Zuza permanentemente embriagado quanto os palmenses adormecidos põem em funcionamento as engrenagens da poesia no moto-perpétuo de transformações, metáforas e desejos que são da própria natureza do Brasil e da poesia. Bingo!
Extrapolei? Diga-me lá...
Um forte abraço,
Marco Aqueiva
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