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domingo, 26 de setembro de 2010

Por que filosofar? (Relendo os estóicos)

(Sêneca desenhado por Peter Paul Rubens)

Emanuel Medeiros Vieira

Por que filosofar? Porque a filosofia – além do conhecimento – pode nos ajudar a viver. Vejam os filósofos estóicos. Eles nos ensinam a lidar com as perdas e as vicissitudes da vida. E a passagem do tempo. Insisto: filosofar é fundamental. Na reforma de ensino, retiraram a filosofia da grade curricular; Tiraram uma oportunidade rara para o brasileiro pensar. Quem tem menos de 60 anos, em nosso país, nunca estudou a matéria. Não estou pedindo para que viremos especialistas, mas que aproveitemos melhor nossa passagem na terra. Nos últimos 200 anos, a despeito de todo o sofrimento, o mundo ocidental viveu sob o domínio de uma crença no progresso, baseada em realizações científicas e empresariais extraordinárias. Tivemos guerras sem fim, o holocausto, sofrimentos, golpes de Estado, exploração e desrespeito constante ao homem cometido pelo próprio homem. No Ocidente, as lições sobre o pessimismo derivam basicamente de duas fontes: os filósofos estóicos romanos e o cristianismo. “Talvez seja a hora de revisitar esses ensinamentos para aliviar nossos pesares”, ensina Alain de Botton. Hoje, vamos meditar sobre a obra de um pensador estóico. Sêneca (I a.C. – 65 d.C) seria um filósofo perfeito para o nosso momento histórico. Vivendo numa época de tremenda inquietação política (Nero ocupava o trono imperial), Sêneca interpretava a filosofia como uma disciplina que servia para nos manter calmos diante de um panorama de constante perigo. Sêneca lembrava no 62 que desastres naturais ou de causa humana serão sempre parte de nossas vidas, por mais sofisticados e seguros que acreditemos nos termos tornado. O filósofo escreve que “não existe nada que a fortuna não ouse”, mas lembra que devemos ter em mente o tempo todo a possibilidade dos mais devastadores eventos. Recordemos só alguns episódios: tivemos duas guerras mundiais. Basta lembrar o sofrimento que elas causaram. Sêneca diz mais: “Nada nos devia ser inesperado. O que é o homem? Um vaso que ao menor impacto, pode quebrar.”

Reli há pouco – deste filósofo – o belíssimo “Sobre a Brevidade da Vida”. A obra é (também) uma meditação serena sobre a nossa fugacidade e a bobagem (uma das pobrezas mentais mais evidentes não é a de nos consideramos “importantes”?) que é a nossa ilusão de onipotência, a nossa vaidade e o nosso apego intenso aos bens materiais. Em 62 d.C., Sêneca pede permissão para retirar-se da vida pública. Nero recusa. O filósofo vive então numa semi-reclusão e escreve suas melhores obras. Em 65 d.C., é acusado de estar implicado numa conspiração contra o imperador. Nero ordena que se suicide. “Assim termina a carreira daquele que, por quase dez anos, governou de fato o Império Romano”, avalia um estudioso. Com ele, como observa William Li, pela primeira vez a filosofia teve experiência do poder. Não deu certo? Está bem: não deu. Então, sem pensar muito, peço que o leitor cite alguns momentos na História em que o humanismo foi vitorioso no exercício do poder. Mas diante disso, lembro-me de Thomas Merton: “O tempo corre veloz e a vida escapa das nossas mãos. Mas pode escapar como areia ou como semente.”

(Salvador, setembro de 2010)
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