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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A morte... anunciando a sua chegada (Tânia Du Bois)



A morte nos filmes vem silenciosa. Chega sorrateira dando a impressão de serenidade e algumas vezes a faz “bonita”. A morte na vida real chega barulhenta: anunciando temor e angústia. O corpo se transforma em reprodução de sons pesados, fortes, que nos assustam, chamando-nos a atenção; a morte chega anunciando o deprimente instante. Lembro da morte assistida: todas chegaram acompanhadas de um ronco e, agora, o som da tristeza se encontra em mim.

E o último suspiro? Na verdade, quem tem o forte suspiro somos nós que sentimos a morte chegando. Ao se anunciar, nos desestruturamos por algumas horas; começamos a ver o lago escuro; no sol sem brilho sentimos o impacto de o vento frio entrar em nossos ossos, a cabeça roda, as pernas tremem e o coração acelera. Tudo o que queremos é que a pessoa não sinta a chegada da morte; como choramos a lembrança antes de esquecê-lo.

Já perceberam que sempre que a morte é anunciada nós corremos ao encontro dela? Com a morte anunciada conseguimos reunir os familiares, rever amigos... Por muitas vezes ela se torna inspiração para os poetas, levando-nos à contradição, invertendo a situação, e por muitas vezes refletindo o belo. O poeta Pedro Du Bois chama a morte de a “Ausência Inconsentida”. Belo nome, dá certo ar de elegância, de silêncio, de paz. Transmite algo, como a “renovação da vida, em outra forma e função”. Nada parecido com o que se faz presente: ouço gritos, choros, desesperos que batucam na minha cabeça, no ouvido e deixam meu coração desgovernado, consumindo-me entre a vida e a morte.

Na “Ausência Inconsentida”, Du Bois declara ser inconsentida a perda; e a ausência, como no poema:
“Na morte espelha a tristeza / em pouca companhia / não será a carne e os olhos fechados / trazendo parco consolo. // Na morte esplendor e glória / trajeto feito, curto e seco / caminho inexorável / de indizíveis saudades.”

Anunciada a morte, não há consciência; há tênue lembrança da vida, que se faz forte. Há a minha tristeza em presenciar, há o badalar do sino, há flores secas; o sonho contém o instante do que não existe mais.
“Pero há vivas memórias / Há mortos que nunca morrem, / voz / imagem / eles surgem feito marés / ou límpidos cristais a esculpir / as lágrimas que a curva do olho não apaga...// Há mortos que nunca morrem, / feitos braseiros, rios caudalosos seguem a refletir em nós vivas memórias...” Carmen Silvia Presotto.
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