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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Lembrando José Valdivino (Dimas Macedo)

(José Valdivino de Carvalho, jornal O Povo)


Entre as vozes mais expressivas da lírica cearense, e assim de toda a poesia do Ceará, no século XX, merece referência o nome de José Valdivino de Carvalho, cujo centenário será assinalado a 25 de fevereiro de 2011.

Poeta por vocação e imperativo de sua humanidade, que beirava as raias do despojamento e da completa unção contemplativa, Valdivino foi um poeta que soube permanecer fiel aos seus motivos e aos apelos da arte criar.

Purista, lírico e amante da dulcíssima e canora língua que o acolheu, até um ponto em que poucos dos seus colegas de vida literária ousaram se expor; e paisagista das coisas do sertão, José Valdivino de Carvalho foi o que se pode chamar um espírito inclinado à aventura da meditação.

Lícito me seria nesta nota em que rememoro a sua dimensão de escritor, reconhecer o quanto o seu nome representa como exemplo de simplicidade e de grandeza alimentadas pelos mistérios do seu generoso coração.

A dimensão telúrica, a mensagem lírica e a magia terna e sutilmente comunicativa da poesia de José Valdivino lhe dão, com certeza, a projeção por ele alcançada nos quadros da literatura de sua geração.

Nos ensaios em que decifra os enigmas da língua portuguesa e em que estuda A Comédia Angélica de José Albano (1961) ou A Poética do Padre Antônio Tomaz (1943), José Valdivino de Carvalho parece assumir uma postura superior de intelectual, de ensaísta e de crítico que se engrandecem pelos acertos de suas conclusões.

Coração, conjunto de poemas de 1939, é o título com que Valdivino nomeia o seu livro de estréia, e é também com o coração que ele produz A Flor da Jurema, de 1942, e as suas Tardes Sem Sol, de 1978.

Nas Historinhas Para Meus Netos e Bisnetos (1984), no seu ensaio O Perigo da Co-Educação (1940), assim como nos demais textos e plaquetas que compõem o elenco de sua luminosa produção, flui a dimensão do escritor comprometido com os apelos da arte e com a placidez cristalina da vida que ele soube dizer como ninguém.

Seu ingresso na Academia Cearense de Letras deu-se aos 15 de agosto de 1956, sendo na oportunidade saudado pelo historiador Raimundo Girão, que no ensejo averbou, entre outras, as seguintes palavras:

“No raio X da melhor leitura de vossa individualidade o erro aparecerá, porque então vamos descobrir o ouro que nela se oculta. O ouro de um caráter retilineamente verdadeiro, e de uma vontade imensamente resoluta.

Sem pisardes a correção e a constância, antes ombreado a ambas, soubestes vencer, dentro das fronteiras do vosso meio social e cultural, ao que suponho, tanto quanto desejastes. O menino, cedo órfão, criado pela avó, superou cada degrau da escada, até chegar ao bacharelado de Direito, à cátedra superior e à direção do mais importante instituto de educação normal do nosso Estado”.

Falecido em Fortaleza, aos 26 de abril de 1989, José Valdivino de Carvalho nasceu aos 25 de fevereiro de 1911, no distrito de Água Verde, município de Pacatuba (Ceará).

Filho de Pedro Lopes de Sá e Antônia Valdivino de Sá, e órfão aos sete meses de idade, consta que foi criado e educado pelo Cel. Juvenal de Carvalho e sua mulher, Maria Joana de Carvalho, vivendo sua infância no Engenho Livramento, município de Redenção, onde cursou as primeiras letras, prosseguindo os seus estudos no Seminário da Prainha, em Fortaleza.

Consta que abandonou o Seminário, em 1928, e que no ano seguinte ingressou no Colégio Cearense, dos Irmãos Maristas, onde permaneceu até 1933, aproximadamente, ali apurando ainda mais a sua paixão cultural e humanística.

A sua formação superior foi realizada na Faculdade de Direito do Ceará, onde se graduou Bacharelem Ciências Jurídicas e Sociais em 1938, optando, então, pela carreira do magistério, que soube conjugar, admiravelmente, com a sua vocação de escritor.

Dedicou-se, durante toda a existência, às coisas superiores do espírito e ao cultivo da língua portuguesa, como o atesta o elenco de suas inumeráveis composições, tendo na Academia Cearense de Letras ocupado a Cadeira de 11, que tem como patrono o Barão de Studart.

Além dos livros acima referidos, integram ainda a sua bibliografia os seguintes trabalhos: Ma Grammaire Française (1940), Pontos de Português (1943), Você e a Crase (1975), O Étimo de Valdivino (1980) e Algumas Poesias (2001).

Escritor de estilo escorreito e elegante, José Valdivino de Carvalho escrevia, segundo os seus intérpretes, tomado do mais enlevado sentimento panteísta e espiritual.

Segundo José Valdivino de Carvalho, “O caminho da Arte, que conduz a Deus, bifurca-se e subdivide-se e pela miríade dessas estradas ensombradas e puras, os poetas ascendem, sublimizam-se, porque a poesia é a espiritualização do humano”.

Distribuindo, através de seus livros, mensagens literárias de funda ressonância ética, sentimental e espiritual, José Valdivino de Carvalho foi exatamente aquilo que declaradamente nunca desejou para si: um cinzelador de imagens e de tons, um poeta de voos alcandorados, um estilista primoroso, e com certeza um esteta iluminado por uma vocação superior.



Fortaleza, fevereiro de 2011
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