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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Segundo rascunho (Luciano Bonfim*)



Todos os outros jogavam sinuca de forma descontraída. Todos os outros faziam suas apostas. Todos os outros riam bastante, talvez como eu, todos os outros estivessem alegres apenas por fora.

...

Ensaiei jogar sinuca, pedi outra cerveja e ainda mais volume no Raul Seixas, neste sentido, acreditei que a bebida pudesse preencher-me no que não me restava de mim mesmo. Mas a cada gole ingerido acrescentava-se uma gota de tristeza e outra vez eu precisava buscar mais alegria no próximo ‘copo de cólera’.

De um deles, de um de todos os outros, um pouco antes de sair exasperado pelas ruas, exigi que me acrescentasse mais bebida e colocasse o Raul Seixas a toda altura.

Ainda voltei ao boteco e, contrariando a todos, retirei o boné do rapaz que matou o meu vizinho, ele riu para os outros, calmamente, e falou: “nunca vi ele assim”.

(Nunca vi ele assim, nunca vi ele assim é o caralho, pensei comigo)

Nenhum de todos os outros entendeu, quando, em seguida, naquela moto, saí desesperado pelas ruas da cidade.

As ruas não estavam desertas, eu estava.

*Luciano Bonfim [Crateús/CE.]. Publicou: Dançando com Sapatos que Incomodam – Contos [2002]; Móbiles – Contos [2007]; Janeiros Sentimentos Poético [1992] s e Beber Água é Tomar Banho por Dentro[2006] – Poesia; escreveu e montou as peças: Auto do Menino Encantado [2002] e As Mulheres Cegas [2000 e 2004]; criador da revista Famigerado – Literatura e Adjacências [2005]; professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA [desde 1996]; aluno do mestrado em Educação Brasileira [FACED-UFC/2006].

luciano.bonfim@yahoo.com.br
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