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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Erotismo na arte (Tânia Du Bois)


(Toulouse Lautrec)

“A fronteira que divide o erótico do pornográfico nunca teve contornos muito nítidos. No Brasil, o erotismo confunde-se com o obsceno. Até pouco tempo, não era elegante a exibição explícita das partes íntimas do corpo humano, que hoje são expostas até na televisão...” (Ney Flávio Meirelles)

Ao analisar o erotismo na arte literária, desenho e pintura, vejo que provocamos o prazer que existe dentro de cada um, porque na arte é permitida uma leitura individual e, sem dúvidas, um olhar aguçado à procura da imagem embutida do desejo de descobrir o interior das pessoas e das coisas.

O artista plástico Ruben Gerchman revela que “para atingir o erotismo é preciso que se fantasie um pouco o real. O erotismo não existe em nível real e sim imaginário.”

Ao invadir o lado erótico, flagramo-nos no exercício do olhar, da relação do prazer sexual e da imagem que se faz dele, como Carlos Higgie demonstra: “Encontrá-la... de repente bem no meio da tarde chuvosa, do dia cinzento e carregado, encontrá-la sem querer, mas desejando... ver com minhas mãos trêmulas de puro desejo, descobrem segredos dos teus botões, fechos, barreiras vão libertando, pouco a pouco, de toda a roupa, de toda a trava, de todo obstáculo, para que nossas peles sequiosas se encontrem...”

O escritor, através das palavras, pinta e desenha, torna pública a possibilidade da expressão estética do erotismo no uso dos contrastes das cores, traços, enlaces e atos. Também, dá suporte à construção de ideias, de palavras em branco e preto, expressando a imaginação do escritor e revelando ao leitor cores e formas na sugestão de novas percepções que conjugam o erotismo, como no poema de Maria Teresa Horta: “O Teu Corpo... vertigem / descendo em tuas costas / as ancas estreitas que escorregam // ... Aperto-te nos braços / e um mar revolto / perde-se em nós...”

Penso que nesse terreno a arte de escrever consegue nos invadir e expressar o erotismo, transportando o mistério em cada palavra, como em Nilto Maciel: “O Arcanjo e a Princesa... Pé ante pé, o arcanjo caminhou no rumo do leito. E pôs-se de joelhos junto ao rosto dela. Os longos cabelos loiros cheiravam a camomila. Os cílios, tão sutis, pareciam veludosos pelos de boneca. O nariz, a boca, o queixo, tudo no seu rosto lembrava deusas gregas. E o pescoço, o colo, cândidos, macios. O ventre, o pequenino umbigo de donzela, maravilhas intocadas. Perplexo – nunca vira de tão perto um corpo nu de ninfa – ...”

Alguns poemas concentram as emoções que operam no consciente, reveladas em jogo de palavras, cujo fio condutor são as transformações sobre a cor e a divisão de tons, retratados no erotismo, como em Pedro Du Bois: “... são teus olhos, fechados / circulando entre mundos, claros e escuros / onde os movimentos se penetram / e o corpo – os corpos – pede o gesto / do abandono e conquista //... na perna entrecruzada sobre a cama...” e, em Clauder Arcanjo, “... na tapera o telhado morto. / E, no quarto, bem ao fundo, / Ele e ela... O coito do silêncio.”

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