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quarta-feira, 13 de abril de 2011

"O poema e o conto são irmãos gêmeos" (Nilto Maciel)

(Entrevista concedida por Nilto Maciel a Selmo Vasconcellos, para o suplemento “Lítero Cultural”, do jornal Alto Madeira, de Porto Velho, Rondônia, e http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/ em 5/4/2011)
(Nilto Maciel)


SELMO – Quais as suas outras atividades além de escrever?
Nilto Maciel – Antes de me aposentar, trabalhava num tribunal. Fui também redator publicitário; vendedor de livros, de porta em porta; caixa de restaurante; atendente de mercearia; entregador de carne em restaurante; auxiliar de escritório; almoxarife, etc. Porém, minha função principal sempre foi ler e escrever, quer quando estudante, quer depois de formado.

SELMO – Como surgiu seu interesse literário?
NM – Não consigo me lembrar de quase nada da infância. Minha memória é fraca. Lembro-me a ler jornais, revistas e livros didáticos. Por volta dos dez anos de idade. As letras impressas me fascinavam. Assim como as “figuras”: desenhos, pinturas, fotografias. Nos jornais e revistas não me interessavam as notícias ou se eram recentes. Preferia reportagens, artigos, crônicas. Devorava O Cruzeiro e Seleções Readers Digest que apareciam em minha casa. Adorava gibis, às escondidas. Leitura proibida por padres e mães zelosas. Lia, com muito gosto, poemas, contos, trechos de romances nos livros de português, mesmo os das séries mais adiantadas. Adorava História, Geografia, Astronomia. Por isso, minhas narrativas são repletas de reis, rainhas, princesas, heróis e bandidos de todas as nacionalidades.

SELMO – Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do país?
NM – Se não for tomar muito espaço, reproduza minha bibliografia.
Tenho contos e poemas publicados em revistas estrangeiras, assim como em coletâneas. São elas:
15 Cuentos Brasileros/15 Contos Brasileiros, edición español-portugués, org. por Nelson de Oliveira e tradução de Federico Lavezzo (Córdoba, Argentina, Editorial Comunicarte, 2007).
Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal, (Português/Francês), coordenação e organização de Jean-Paul Mestas.
Os rumos do vento/Los rumbos del viento (antologia de poesia), coordenação de Alfredo Pérez Alencart e Pedro Salvado (Trilce Ediciones/Câmara Municipal de Fundão, Portugal), Salamanca, Espanha, 2005.
Poesía de Brasil, volumen 1, (português/espanhol), organizador Aricy Curvello, traductor Gabriel Solis, (Proyeto Cultural Sur/Brasil, Bento Gonçalves, RS, 2000).

SELMO – Qual (is) o (s) impacto (s) que propicia (m) atmosfera(s) capaz (es) de produzir poesia?
NM – O poema e o conto, para mim, são irmãos gêmeos. São frutos ou filhos. Não nascem por acaso nem em consequência de uma busca. Vêm da memória. Por isso, não vêm do acaso. Não sou um profissional da literatura. Não escrevo por encomenda. Se fosse profissional, seria um escritor (trabalhador) relapso. O poema ou o conto surgem quando menos espero. Não se trata de inspiração. Talvez seja uma centelha que me desperta. Essa centelha vem de um mosquito que me rodeia, de uma luz que se apaga, de uma perna que passa diante de meus olhos (pode ser o olhar guardado, escondido, o da memória). Surge o personagem, o ato, o instante, o pequeno drama. Logo aquilo se avoluma, toma corpo. Formam-se as frases. O personagem se movimenta (ações) – se for conto – ou pensa.

SELMO – Quais os escritores que você admira?
NM – Há muitos anos leio e releio Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos e outros mestres de nossa língua. Os traduzidos também me fascinam: Cervantes, Flaubert, Dostoievski, Kafka, Borges e tantos outros.

SELMO – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
NM – Leiam e escrevam todo dia. Mas não deixem de ler, se escrever for um sacrifício. Ser bom poeta não dependerá de nada e de ninguém. Nem do próprio poeta. Dez por cento de um poeta dependem de leituras, aventuras (vida), curiosidade e outros fatores. Os outros noventa por cento vêm da infância ou de mais longe ainda. Talvez do nosso tempo de primatas. O poeta é como um boneco que se faz (se vai fazendo aos poucos) até se tornar escultura de Rodin. Resta saber se ele sabe se fazer. Ou se pode se fazer.

Fortaleza, 2 de abril de 2011
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