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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sobre Os Guerreiros de Monte-mor (W. J. Solha)



(Escritor W. J. Solha)

João Pessoa, 8 de dezembro de 2011


Nilto, sempre vi que as pessoas consideram enorme elogio dizer a um autor que leram seu livro de uma sentada só. Pois bem. Li seu "Os Guerreiros de Monte-Mor" de uma só sentada. Como eu e você não conseguimos ler nada sem ir – ao mesmo tempo – fuçando pistas que nos levem ao mecanismo da obra, quando vi o nome de Amparo e soube que Antonio Cardoso "saía para trabalhar com (...) a cabeça coberta de borboletas", somei isso ao fato de que o romance vai buscar uma época primitiva do Ceará, como o Gabo fez na Colômbia, vi certa magia no ar, "grutas cheias de metais, sinos capazes de acordar os sertões, (...) instrumentos que atraíam chuvas e até armas para a guerra sertaneja que se avizinhava", tudo acrescido a um clima de guerra presente o tempo todo, tasquei: "Cem Anos de Solidão". Mas uma frase, já lá perto do final, "Nós somos é decifradores", adicionada a toda uma cultura aficionada aos Pares de França, Teodora, Magalona e assemelhados, me zumbiu: "Ariano Suassuna", "armorial", com a loucura de Quaderna e seus dois amigos igual à loucura da "Majestíssima Trindade" formada pelos três "revolucionários" de "Os Guerreiros de Monte-Mor", pelo que concluí: "O Romance da Pedra do Reino". A verdade, como Gabriel García Márquez já disse, é que estamos todos escrevendo o mesmo livro, Cada novo romance é sempre o acumulado do que já se fez até então e um passo à frente nessa categoria literária. Parece-me que sua grande contribuição com esse trabalho, Nilto, foi a de dar seu recado com mais fluência, em face da brevidade. Isso fez com que ele se aproximasse de uma parábola sobre a Revolução, tanto quanto se aproximou "A Revolução dos Bichos", do Orwell. Pois não é que, lá pelas tantas, seus exiguos três doidos me pareceram Lênin, Trótsky e Stálin armando a tomada do poder pelo "proletariado", mas descaradamente substituindo-o pelo que Vladímir Ulianov chamou de "revolucionários profissionais", mandando Marx às favas? E que tal a briga da Majestíssima Trindade pra ver quem fica no poder, enquanto na vida real Stálin manda matar Trótsky no México? Estarei demonstrando estar pirado, dizendo isso? Acho que não. Lá pelas tantas, José e Chicó perguntam ao João: "Estado, o que é estado?" Ridículo? Claro, é ridículo, mas Norberto Bobbio, em "Qual Socialismo?", diz que o grande problema da União Soviética foi que Lênin soube como chegar ao poder, mas não o que fazer dele. Conclusão? Nota 10, Nilto.

WJ Solha
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