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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Imanência (Emanuel Medeiros Vieira)

“Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”. (Sêneca: 4aC - 65 dC)



Galos na madrugada
galos no coração
em nuestra América.
Solar manhã: me contamina com os teus raios.
Garimpeiro ainda sou.
De barras de ouro?
Não: da perdida emoção, do sonho escondido no sótão.
Parabólicas afetivas – o menino e o velho,
sou um rio cheio de afluentes,
migrando sempre,
tão longe, tão perto.
Esse estatuto de miséria não é o nosso.
Famélicos de infinito: mapas tortos, bússolas quebradas.
E meu pai aparece na luminosa manhã – e ele já se foi há tanto tempo.
“Pais, nossas orações estão cheias de sujeitos ocultos, predicados mesquinhos, verbos frágeis.”
Ele só escuta – terno preto, aliança, colete, chapéu, relógio de algibeira.
Tudo é descartável, pai, nada fica.
Ele sorri, vai embora.
E o subcutâneo domingo irrompe além da pele.
E me lembro de um circo mambembe que ficou no subúrbio,
O mar já não me alcança – e a juventude longe.
Do dia, quero o sumo, não só o travo – e um piano corta a tarde.

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