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segunda-feira, 12 de março de 2012

Dog “Dog days are over” (Emanuel Medeiros Vieira)



Para Célia
Em memória de meus pais
Em memória de Ivan Moreira da Silva, de Márcio Palis Horta e de Ronaldo Paixão Ribeiro


Os dias de cão acabaram?

Os demônios continuam perambulando por aí?
(Entre pássaros, o sol, pessoas indo e vindo?)
Mais sutis.
Não há mais medo – dessacralizado mundo.

Vulnerável presente,
o futuro é a velhice –
esse outro outono –
outro, mais outro,
o passado irrevogável –fragmentado,
e o que é o tempo?
“Deus não tem pressa nenhuma, para Ele tudo é ontem, hoje, amanhã, só quem vive dentro do tempo somos nós”. (João Ubaldo Ribeiro)

A juventude a mim renunciou.
Não importa.
Ninguém é profeta em sua terra.

Quando morrer, quero uma lápide e um rosa vermelha, mas sem donos.

E alguém cantando Cartola, e um gramofone tocando “Romaria”, na voz de Elis (mas apressem, o coveiro precisa bater o ponto – ah, burocracia, para nascer, para viver, para chegar na outra margem do rio)..
Que todos tenham uma rosa (e uma casa, um pão quente partilhado).

Não, não importa o reconhecimento.
Mas cumpre a tua jornada (lápis afiado, papel em branco) de sol a sol.
Algo de nós (do nosso trabalho?) permanecerá.

Queria ver o mundo como se fosse a primeira vez,
(como quando alguém enxerga o mar (sim, pela primeira vez – menino).
Casualidades governam a vida.

“Não restará na noite uma estrela./ Não restará a noite./ Morrerei, e comigo a soma/ Do intolerável universo./ Apagarei as pirâmides, as medalhas, os continentes e os rostos./ Apagarei a acumulação do passado./ Transformarei em pó a história, em pó o pó./ Estou mirando o último poente. Ouço o último pássaro./ Deixo o nada a ninguém”. (Jorge Luis Borges)

(Brasília, fevereiro de 2012)

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