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domingo, 1 de julho de 2012

Solenidade (Ronaldo Monte)

(Maria Valéria Rezende)

Era realmente uma sessão solene. A escritora e humanista Maria Valéria Rezende recebia o título de cidadã na Câmara Municipal de João Pessoa, proposto pela Vereadora Sandra Marrocos. O ambiente fervia de emoção com a sucessão de manifestações de carinho e respeito pela amiga fraterna. De repente, o clima foi rompido por uma gargalhada vinda das galerias. A pessoa que falava tentou recuperar o tom emotivo, mas uma nova gargalhada se chocou contra a redoma de afeto que nos envolvia.

Como de costume nessas ocasiões, reagi instintivamente, mandando com um gesto que o dono da gargalhada saísse dali. Mas depois, pensando no fato, cheguei à conclusão de que nós, os amigos de Valéria, é que estávamos incomodando. A hiena estava em seu ambiente natural. Pois, com as raras e honrosas exceções, as casas do poder legislativo, em todos os níveis, têm se mostrado como cenários propícios à galhofa e o desrespeito à solenidade da nossa cidadania.

Não há nada mais deprimente do que assistir nos noticiários ao descaso dos parlamentares pelo que está sendo dito nas tribunas. Não podemos ouvir o que eles conversam entre si, aos cochichos e olhares de esguelha. Muito menos iremos saber o que causa as explosões gostosas de riso entre os grupelhos mais afastados da cena. Mas de uma coisa podemos ter certeza: eles não estão cuidando de nossos interesses. Cochichos, trejeitos e gargalhadas são indícios de que estão nos escondendo coisas e rindo às nossas custas.

Pode ser que a presença de Valéria e seus amigos tenha deixado algum fluido bom pairando no plenário da Câmara de Vereadores de João Pessoa. Seria muito bom que os ocupantes daquelas cadeiras se deixassem impregnar pelo espírito solidário e corajoso de Valéria Rezende. Melhor seria que esse espírito envolvesse todas as casas de todos os poderes do País. Talvez assim seus ocupantes cochichassem menos, conchavassem menos e possivelmente trocassem a gargalhada de deboche pelo sorriso fraterno de quem está ali, pago pelo povo, para cuidar do que existe de mais solene neste mundo: a vida de seus semelhantes.

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