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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Luz vermelha que se azula (Dias da Silva)



 
Para ler o que é bom, a condição é não ler o que é ruim. Daí por que leio tão somente o que é bom: por exemplo, os contos de Luz vermelha que se azula, do escritor Nilto Maciel.
Sempre ajudam no conhecimento do autor quaisquer referências. Assim, tenham-se estas: Nilto Fernando Maciel, nascido em Baturité, Ceará. Em parceria, cria, em 1976, a revista O Saco, de inúmeros leitores. No espaço entre 1992 e 2008, edita corajosamente e incansavelmente, Literatura: revista do escritor brasileiro, sempre bem acolhida, no cenário das letras.
       E mais: Nilto Maciel é escritor premiado merecidamente, e agraciado em concursos literários, estaduais e nacionais. Autor de produção escrita fecunda e vária, tem, lançados, livros de contos (7); novelas (3); romances (8); ensaios (2); poemas (1) e Contos Reunidos I e II.
Sobremaneira no romance e no conto, há feito bonita figura, merecidamente aceito e admirado, entre inumeráveis leitores e críticos literários. Os textos, todos, de Luz vermelha que se azula são dignos de leitura atenta, capaz, certamente, de recompensar qualquer esforço.
Na compreensão de José Donoso, Chile, feito numa comparação entre romance e conto: O conto é uma faísca e o romance é como uma bolsa em que se pode meter tudo, uma forma mais maleável.
Eis os contos de Nilto Maciel: “peças nuas”, feito num “tiro só”: vapt e pronto, “faísca”, sem abertura de espaços como divisão de capítulos, marca do romance e novela.
Assim: sentenças curtas, frases nominais, sem que resultem em linguagem pesada, picada e cansativa, configuram os contos do autor de Pescoço de girafa na poeira, de título convite à leitura. Também constantes elipses verbais dão-lhe agilidade e estilo próprio, feito num quase laconismo. É marca ainda da linguagem a maneira de nomeação de personagens: Se anunciou com letras redondas: Severino. E não é difícil identificarem-se os personagens que se dizem pessoas comuns, do dia a dia, revestidas de roupagem que lhes dá movimento e rápidas ações.
Em Luz vermelha que se azula, Nilto Maciel é mestre no diálogo, sem travessão e sem aspas – convencionais – indicativo de alternância de interlocutores. Entretanto, o leitor, sem esforço mental, vai descobrindo mudança de personagem.
Assim, a maioria dos contos são diálogos extensos – o texto todo quase, às vezes, com intervenções – digam-se esporádicas – do narrador, elemento indicativo de conversa viva e palpitante entre pessoas.
O escritor Nilto Maciel é também mestre em titulação: tem ele conjuntos lingüísticos raros e inusitados, verdadeiras redes de arrastar leitores, por exemplo, o que dá nome ao livro: Luz vermelha que se azula (página 24); Em busca do Sol, Quando outro passarinho passar, e por aí adiante.
Realmente, o que pega o leitor é a frase curta, frase relâmpago, sentença faísca, pela objetividade, rapidez e leveza. O  Autor tem sim talento de escritor de pulso e de raça, que absorve, prende e maravilha: dizem-se forças fundamentais de sua inteligência criadora.
Não é – antecipe-se isso – com intenção de fazer qualquer corrigenda – não há o que corrigir formalmente na linguagem de Luz vermelha que se azula, senão registrar simples observação – acredito – sem conseqüência nenhuma. É que se tem, nessas páginas, predomínio, quase absoluto, das formas verbais no passado, diga-se tempo correto e adequadamente usado. Entretanto, atualizadas, isto é, trazidas para o presente, a linguagem ganha – e muito – em força e expressividade, pelo registro dos fatos e ações e ambientes no momento. Pelo menos em algumas passagens.
No mais – esqueça-se esta observação – sem restrição, faça-se a leitura de Luz vermelha que se azula, e se está a ler o que é bom: os contos do escritor Nilto Maciel.

(Jornal Binóculo nº 128, Fortaleza, agosto de 2012)
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