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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Arthur Schopenhauer, máquina de pensar (João Carlos Taveira)




          

Como é sabido, Schopenhauer influenciou muita gente boa nos meios filosóficos, literários e musicais do mundo moderno. Entre suas influências mais marcantes, podemos citar as que exerceu sobre Friedrich Nietzsche, Richard Wagner, Ludwig Wittgenstein, Erwin Schrödinger, Albert Einstein, Sigmund Freud, Otto Rank, Carl Jung, Joseph Campbell, Leon Tolstoi, Thomas Mann, Fernando Pessoa e Jorge Luís Borges.

          Schopenhauer ficou conhecido por seu livro O Mundo como Vontade e Representação, que sintetiza as ideias de que o nosso mundo é dirigido continuamente por uma vontade insatisfeita e busca a satisfação influenciado pelo pensamento oriental. Segundo ele, “a verdade foi reconhecida pelos sábios da Índia”. Por isso, as soluções apontadas para o sofrimento foram semelhantes às dos pensadores budistas, que tinham a fé como realidade transcendental.

Esse homem era uma verdadeira máquina de pensar e seus pensamentos — os mais diversos em áreas distintas — continuam vivos e atuantes nos meios acadêmicos. E o que explica isso? Certamente sua lucidez diante dos fatos e da vida dos seus semelhantes, sempre carentes de certezas e confirmações dos arquétipos mais recônditos da alma. A humanidade, desde sempre, caminha meio às cegas na luta pela sobrevivência, completamente à mercê das intempéries e do comando de uns poucos que detêm as engrenagens do poder. Com isso, o sistema colabora com a minoria no sentido de tornar o rebanho mais afável dentro de um status de acomodação cada vez mais mediocrizante. Fugir desse estigma é tarefa para poucos. E muitos sabem disso.

         Ao concluir a leitura deste livro corajoso de Fábio Liborio, intitulado Schopenhauer e a Estética do Desejo (Editora Wizard, 2012), ficamos com a sensação de que desconhecíamos muitas de suas próprias descobertas. Meticuloso e atento, Fábio Liborio percorre um caminho, se não totalmente novo, pelo menos bem arejado e convidativo. Seu estudo é resultado de vários anos de docência e apresenta um retrato fiel do indivíduo a partir da sexualidade proposta pelo gênio alemão. Sexualidade esta que vem envolta por muitos aspectos da condição humana. Dentro da visão cristalina de Schopenhauer, o homem se utiliza da expressão amor para nomear sua pulsão ao sexo, que tem por meta precípua a preservação da espécie. Nada mais que isso.

         Já no livro A Arte de Envelhecer, o filósofo continua, por intermédio de aforismos, suas análises certeiras em relação ao homem. Para ele, o pior dos sentimentos é a inveja, que só encontra apaziguamento na morte, pois na velhice só faz arrefecer, em alguns casos. No geral, vai aumentando com o passar do tempo. E Fábio Liborio soube transmitir com sutileza estilística todas as nuanças do discurso schopenhaueriano, dando-nos uma visão abrangente e ao mesmo tempo sintética.

E esse é o papel que todo livro devia cumprir, mas que, infelizmente, ainda não acontece, principalmente nos países em que as pessoas continuam sua luta para tornar-se povo, para poder se libertar das correntes do atraso que as mantêm pregadas ao chão com individualidade egoística e perniciosa.


Brasília, 1.º de outubro de 2012.