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domingo, 25 de novembro de 2012

Tenho um cão, e agora? (Tânia Du Bois)




Segundo o cientista Atsushi Senju, “o cão tem capacidade especial de ler a comunicação humana. Responder quando apontamos e quando sinalizamos”.  Escritores e poetas com liberdade espelham com a palavra em seu sentido e significado, como o reconhecimento da presença do cão.

Ter um cão é buscar o contado da sua companhia, pensar em ter um amigo fiel e o reconhecer como o melhor amigo do homem e guardião de suas vidas. O poeta Carlos Pessoa Rosa difere ao dizer que “ruas / curvas de injustiças / onde cães / caçam piolhos e pulgas / e não ladram / quando jovens roubam / a privacidade / de seus moradores”.

Adalberto da Cunha Melo, em seu livro Cão de olhos amarelos, desvela os mistérios da vida e da morte na repetição pensada das ideias, “Na cova de sombra, um cão, / na calçada de um bar gemia. / Era um cão de olhos amarelos...// sua presença de sombra / era tão densa na calçada, / que as outras sombras tropeçavam...”

No livro Memórias de um cão, de Virgínia Wolf, encontramos os mistérios da existência vistos através dos olhos do melhor amigo do homem.

Mas, a pergunta que paira no vazio é: tenho um cão, e agora? Essa é a situação que sugere o respirar fundo e questionar-se: cão do homem? Homem cão? Vida de cão? Pedro Du Bois, em seu livro Os cães que latem, revela as verdades inalcançáveis, onde o homem desumanizado vive com a desigualdade, o medo e a falta de ética, “... os caminhos infames, flores sem estames, a luta, o ódio, morte, fuga. / cães malditos!” Betusko, em seu poema, mostra, “É noite, os cães latem // todos os cães, / os amantes partem, / todos eles vão...”

Não posso deixar de questionar se a poesia e a literatura nos fazem entender, superar e restaurar as imagens e os desencantos, como escreveu Nilto Maciel: “... Morava sozinho num casarão. Em suma: muita solidão. Nem sequer um gato para miar-lhe o silêncio, um cão para ladrar-lhe a escuridão...”

Os escritores, ao descreverem a partir do cotidiano a vida do cão, retratam os escuros tempos em que ouvíamos latidos de incertezas, como manifestações a comprovar a importância do cão em nossas vidas e que, ainda hoje, trazem o silêncio como reflexão, nas palavras de Alphonsus Guimaraens Filho: “E os outros passam, e as coisas gritam, / e os corações pobres, se atritam,...// Que é que vejo? Que é que ouço?/ (Rói calado cão o teu osso)”.

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