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sábado, 26 de outubro de 2013

Mosaicos de ruínas (Tânia Du Bois)




“Passei anos a olhar / para as coisas que se destroem. / Muros de pedra / casas antigas, alpendres estrangulados...// Nem que o lugar / se tomasse de ruínas...” (Jorge Tufic)            

            Tarde de domingo. Do mar, escuto o que diz em voz alta. A vida senta-se, desconfiada do mundo, ao perceber que a nossa história não está sendo ouvida e pouco preservada e que as palavras caem como chuvas em chamas: as ruínas culturais, emocionais e materiais. Segundo Tatiana T. Coelho, “vivemos de ruínas... / por outrem descobrimos os que fomos, / buscamos encontrar o caminho e nos deciframos”.
           
          Ruínas, para mim, têm vários sentidos e um deles é o fim dos sonhos, das conquistas do equilíbrio pelo melhor caminho. Fica presente apenas o nosso medo, civilizatório. É sentimento difícil de se admitir, mesmo que, em algum momento, já tenhamos tido gestos em que “arruinamos a nossa vida”, como ajudar a alcançar as ruínas, desestabilizando até a mãe natureza; “como árvore velha desfolhada, //... guarda ainda / A saudade do tempo que foi linda / e teve seiva e ramos enflorados!” (Nicolau N. Nahas).
            
            Ao constatar que a vida não é satisfatória, vale lembrar como alerta que a qualidade de vida pode significar libertação.

            Pedro Du Bois, em seu livro O Coletor de Ruínas, mostra que é possível criar para o presente e o imprevisível, e olhar o que se esconde atrás do ponto cego, sobre a realidade e a percepção do mundo, como no poema: “sobre a terra / queimada / brota a planta / em sequência // (sustenta a fome / dos animais criados) // sobre a terra / insustentável / o vento trabalha sua parte”.

            Davi Arrigucci Jr., em seu livro O Cacto e as Ruínas, de crítica literária, analisa dois poemas: O Cacto, de Manuel Bandeira, e As Ruínas de Selinunte, de Murilo Mendes. As Ruínas de Murilo mostra a desordem das pedras caídas e a destruição: ”Sobre o mar em linha azul, as ruínas / severas tombando //... Para a catástrofe, em busca / Da sobrevivência, nascemos.”            

            A literatura é uma das maneiras de ver o passado e, ao conviver com ele, diminuir as “ruínas do dia-a-dia”. Nesse caso, vale avaliar o que realmente é importante para nós. Quais as tradições que gostaríamos de manter e quais histórias queremos contar aos nossos netos. Também, devemos pensar como reagir diante das “ruínas”. Como evitar que elas aconteçam? Álvaro Pacheco escreveu “... Pois Camões cantava a glória / e eu canto o desespero / deste tempo poluído”. E Tatiana T. Coelho reflete: “Para onde foram os sonhos? / Ruínas levadas pela correnteza da vida”.         

              Os poetas declaram, como em Pedro Du Bois, “Fomos a descoberta – passo a passo – e somos o encoberto ser insatisfeito em necessidades. Alguns colecionam, outros coletam ruínas. Com tal perspectiva, só nos resta o tempo como desafio para evitarmos as “ruínas”, como em Octávio Paz, “La irrealidad de lo mirado / da realidad a la mirada.” (A realidade do visto / dá à vista realidade).

            Vida e realidade caminham juntas nas diversas formas de elevar o nosso mundo a uma nova dimensão, entre elas, as artes e os gestos, que nos levam a pensar em como evitar a construção do mosaico de ruínas.
                                                           
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